De imortalizar o movimento de levantar taça a ser peça fundamental no desenvolvimento de estudos sobre lesões cerebrais no futebol: conheça a história do capitão Bellini.

Bellini recebendo o troféu de campeão do mundo – Foto: Arquivo CBF

Hideraldo Luiz Bellini, mais conhecido como Bellini, é uma das figuras mais importantes da história do futebol brasileiro e mundial. Campeão do mundo em 1958 e 1962 pela seleção brasileira, atuou no Vasco da Gama, São Paulo e Athletico Paranaense entre 1952 e 1969, quando se aposentou. Dentre seus títulos pelos clubes, se destacam os campeonatos Cariocas de 1952, 56 e 58 e o Torneio Rio-São Paulo de 1958.

“O Primeiro Capitão Campeão”, como sua esposa Giselda o nomeia em seu livro, consagrou e imortalizou um dos movimentos mais importantes do futebol e do esporte mundial: levantar a taça de campeão. Em 1958, a seleção brasileira chegava à final da copa do mundo pela segunda vez, repleta de craques como Pelé, Didi, Gilmar, Bellini, Zito, Garrincha, entre outros, e derrotava a seleção anfitriã do torneio (Suécia) por 5 a 2, conquistando o primeiro título mundial de sua história; o líder e escolhido como capitão desse time era o próprio Bellini.

Diante de quase 52 mil pessoas no estádio, foi dada a tão sonhada Jules Rimet para as mãos do capitão e ele começou a ouvir pedidos de jornalistas brasileiros para que levantasse a taça, pois não estavam conseguindo enxergá-la e fotografá-la; assim, Bellini sem intenção nenhuma de criar e padronizar um movimento, ergueu a taça e levou os jogadores, jornalistas e torcedores a loucura naquele dia. A partir desse momento, nenhum outro jogador comemorou um título de outro forma.

Bellini imortalizando o movimento de levantar a taça – Foto: Arquivo CBF

Bellini ainda jogou mais duas copas do mundo, tendo desfechos diferentes. Em 1962, só que agora quem era o capitão era o Mauro Ramos (amigo de Bellini), a seleção brasileira repetiu o feito no Chile e se sagrou bicampeã mundial, novamente contando com grandes estrelas, dentre elas Garrincha, Pelé, Djalma Santos, Coutinho, Pepe, entre outros.

Em 1966, o resultado foi completamente diferente e decepcionante; o Brasil sem se adaptar com a mudança do jogo físico de algumas seleções europeias e com uma desordem interna muito forte, acabou parando ainda na fase de grupos do torneio, deixando um sentimento de frustração na imensa torcida brasileira e marcando a última Copa do Mundo de Bellini.

O dia 20 de julho de 1969 marcou a despedida dos gramados do “Primeiro Capitão Campeão”, depois de uma longa e vitoriosa carreira dentro do futebol. Só que essa paixão de anos e essa entrega à profissão acabariam se tornando algo negativo para a vida de Bellini.

Anos depois, em 1997, Bellini começou a ter os primeiros indícios de uma doença que estava o levando gradativamente ao esquecimento, chamada “Síndrome de Pugilista”; ela é causada principalmente pelos choques de cabeça em esportes violentos, como boxe e futebol americano. Porém, os próprios médicos não tinham certeza do diagnóstico da doença e disseram à sua esposa que só confirmariam o resultado com a doação do cérebro dele para estudos, após a sua morte. Foi nesse momento que a surgiu a grande importância de Bellini fora das quatro linhas.

Bellini já mais velho, sofrendo da síndrome – Foto: Gazeta Press

Já internado, a família do capitão da seleção tomou uma das decisões mais difíceis: aceitar o pedido do médico. Até que no dia 20 de março de 2014, Hideraldo Luiz Bellini se despediu da família e de uma marcante e importante trajetória na terra. Pouco tempo depois, um dos médicos que liderou o estudo do cérebro dele diagnosticou que ele tinha tido mesmo a “Síndrome de Pugilista”, em escala máxima.

Talvez você, caro leitor, esteja se perguntando: “Tá, mas qual a importância disso no futebol?” E eu te respondo: a partir desse estudo e resultado, o mundo do futebol nunca mais foi o mesmo, já que Bellini tinha sido o primeiro caso a ter essa doença causada por pancadas na cabeça, em decorrência desse esporte.

Diversos outros casos, como o do jogador Marinho que esqueceu que havia feito um gol; e na final da Copa do Mundo de 2014, em que Kramer (da Alemanha) não se lembra de nada dos 30 minutos que ficou em campo, evidenciaram ainda mais o risco que o esporte estava causando nas pessoas, a partir de choques de cabeça e que poderiam acarretar em um fim como o de Bellini.

Assim, a FIFA vem realizando estudos e testes para amenizar esses contatos e enfatizar o risco que é uma batida “cabeça com cabeça”, e até implementou uma substituição a mais nos jogos caso algum jogador tenha suspeita de concussão ou alguma outra lesão cerebral.

É evidente que o “Primeiro Capitão Campeão” marcou e deixou um legado tanto dentro do campo de futebol quanto para a ciência e autoridades, que depois de mais de um século de existência do esporte mais popular no mundo, finalmente deu a devida importância para as lesões e choques de cabeça nos jogos.