Mesmo ganhando mais visibilidade, o futebol feminino continua passando por turbulência em sua trajetória por não receber o verdadeiro reconhecimento que merece. Apesar disso, as equipes femininas nunca abandonaram a luta pela igualdade social dentro e fora dos campos.

Ei, você! Conhece a jogadora Marta? E a Cristiane? Formiga? Eu duvido que você nunca tenha ouvido o nome dessas grandes do futebol brasileiro. Duvido, também, que você nunca tenha assistido a pelo menos uma chamada sobre o campeonato feminino de futebol na televisão.

Pois bem, estou aqui para lhe contar que nem sempre esse esporte teve a sua merecida visibilidade e que, mesmo sendo mais reconhecido nos dias de hoje, ainda não tem o destaque que deveria. Vou lhe mostrar, também, que nem tudo são flores. Até mesmo a própria seleção de futebol feminina brasileira já passou e ainda continua passando por perrengue atrás de perrengue…


 Registro do primeiro time feminino formado, Inglaterra. Foto: Wikimedia Commons.

Para você ter uma noção, o futebol feminino era algo tão inusitado para a população que as competições eram apresentadas como atração circense. Isso mesmo! As mulheres subiam aos palcos e ali se “apresentavam”.

Cartaz convidativo para a atração e as competidoras logo ao lado. Foto: Acervo Museu do Futebol.

Diferentemente do futebol masculino, onde os atletas geralmente pertenciam à elite, o futebol feminino surgiu da força e do empenho de mulheres operárias, que faziam parte das classes sociais mais baixas. Como viviam em um contexto social extremamente elitista e sexista, as jogadoras acabaram ganhando as alcunhas de “indelicadas e grosseiras”.

Tempos mais tarde, no entanto, surge a ideia de que elas não eram “femininas”, além de “sujas”. Essa ideia, por sua vez, se uniu à crença popular de que o futebol era um esporte “agressivo”, culminando com a proibição da prática do futebol feminino, já que a sociedade do começo do século XX era extremamente rígida.

Dentro desse contexto, no dia 14 de abril de 1941, o então presidente Getúlio Vargas, no momento ditatorial no Regime do Estado Novo, sancionou o Decreto-Lei 3.199 que determinava em seu artigo 54º a proibição das mulheres praticarem esportes “incompatíveis com as condições de sua natureza”.

Somente anos depois, em 1979, as mulheres puderam praticar o futebol legalmente, e, mesmo assim, permaneceram sofrendo com a falta de investimentos e de patrocinadores, situação que perdura até hoje.

Foto: Divulgação/Museu do Futebol.

Mesmo não tendo apoio, nem mesmo uniformes para entrarem em campo (elas utilizavam o excedente do vestuário masculino), a seleção feminina conseguiu ganhar e ampliar seu espaço na modalidade esportiva através de importantes títulos.

Suzi, artilheira camisa 10, destacou-se em campo com sua performance na Copa de 1999 e, posteriormente, “passou suas chuteiras de ouro” para Marta, apelidada atualmente como “a melhor artilheira da história”.

Seleção brasileira na Copa de 1999. Suzi colocada logo a frente. Foto: Getty Images/Reprodução: ESPN.

Seria lindo se parássemos por aqui e disséssemos que o futebol feminino, a partir de então, só ganhou prestígio e reconhecimento nacional com o passar dos anos. No entanto, não seria verdade…

Anos se passaram e, apesar já estar com certa notoriedade, o futebol feminino ainda passa por diversas dificuldades. Mesmo a seleção sendo tri-campeã de ouro nos jogos Pan-americanos e somar diversas outras vitórias, apresentando alta performance em campo, sofrem com o descaso pela CBF. Em 2019, por exemplo, o calendário do Campeonato Paulista demorou a ser concluído, diferentemente do masculino, atrasando a final em quarenta dias.

Uma questão que vem sendo duramente criticada, nesta temporada, é o fato da CBF não ter divulgado a tabela do Campeonato Brasileiro para jornalistas e imprensa, assim demostrando mais desdém da Confederação com esta modalidade em ascendência.

Seleção feminina brasileira em 2019. Foto: Divulgação/ CBF.

Vale ressaltar, também, a desigualdade salarial que perdura entre o futebol feminino e masculino: calcula-se que as mulheres ganham cerca de quarenta vezes menos do que os homens.

Questão Enem 2020. Foto: Reprodução.
 

Porém, há quem acredite que exista uma luz no fim do túnel. No ano de 2019, foi aprovado um projeto que torna obrigatório aos times da Série A do Campeonato Brasileiro formarem uma equipe de futebol feminino. No mesmo ano, foi aprovado o PL 1484/19, que obriga as equipes destinarem 10% da totalidade dos patrocínios recebidos para a modalidade feminina. Contudo, os clubes não têm a obrigatoriedade de profissionalizar o setor, ou seja, é possível que um clube contrate jogadoras sem garantia de CLT, 13° salário ou nem sequer proteções legais cabíveis ao esporte.

Tendo em vista todo esse cenário, entende-se a importância da resistência e da luta do futebol feminino. Não se trata apenas de uma modalidade esportiva, mas também da representação e busca por uma igualdade justa e merecida entre a figura feminina e a masculina; não apenas dentro dos campos, mas sim dentro de toda uma sociedade.

Essa matéria foi produzida com o também redator do Quentaro, André Taheiji. Para mais textos de sua autoria, acesse nosso Portal!

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