A seleção brasileira feminina de vôlei e o ouro olímpico: por que tão distantes?

Seleção brasileira feminina encontra problemas na preparação para as olimpíadas de Tóquio. 

Na quarta-feira, 25 de maio, a seleção brasileira feminina iniciou sua trajetória na Liga das Nações de Voleibol Feminino, com transmissão dos canais SporTV, e os fãs de vôlei ficaram animados com a volta dos jogos da seleção. A VNL é uma competição de pontos corridos entre seleções nacionais. Excepcionalmente nessa edição, por conta da pandemia de COVID-19, todas as seleções jogarão contra todas e as 4 primeiras colocadas seguirão para a fase final, em que disputam o final four em cruzamento olímpico – as perdedoras das semifinais disputarão o terceiro lugar e as vencedoras jogarão pelo título.

O Brasil fez três jogos durante a semana do dia 25, contra Canadá, República Dominicana e Estados Unidos. Os jogos contra Canadá e República Dominicana foram mais tranquilos para a nossa seleção, que conseguiu duas vitórias por 3×1 e 3×0, respectivamente. No entanto, ainda que essas vitórias tenham parecido fáceis ao olhar-se o placar, acabaram sendo mais difíceis do que deveriam ser, em razão dos próprios problemas da seleção brasileira. O jogo contra os Estados Unidos, assim, escancarou que as brasileiras, embora tenham um elenco qualificado, ainda não estão prontas para o ouro em Tóquio. Aqui estão os motivos:

1. Falta de entrosamento e tomada de decisão

Durante os jogos que fizeram na semana do dia 25, as brasileiras apresentaram alguns problemas que poderiam ser considerados “erros de principiantes”.

Há, sim, um “embate de gerações” na seleção, e isso contribui para a falta de entrosamento. Enquanto temos jogadoras que já jogaram juntas por muito tempo na seleção, como Fernanda Garay e Tandara Caixeta, existem jogadoras que ainda não estão acostumadas a isso, como as mais novas Lorenne Teixeira e Ana Cristina Menezes. Mas isso não explica alguns erros básicos cometidos. 

As meninas perderam alguns pontos devido aos erros durante o rodízio – troca de posições que ocorre no voleibol quando um time recebe um saque depois de vencer um rally contra o outro time. Estes erros bobos, contra seleções mais fracas podem não custar nada, mas contra seleções mais fortes podem acabar custando pontos que seriam preciosos para o Brasil, tanto para o jogo em si como também para recuperar a confiança das meninas que estão em quadra.  

Além disso, essa falta de organização e entrosamento afeta as próprias jogadoras. Com isso, muitas vezes ocorrem erros em quadra, em que ou as ponteiras não acompanham o levantamento ou a própria levantadora não escolhe o levantamento certo para aquele momento. As jogadoras também têm de lidar com a indecisão em diversas ocasiões, já que nesses jogos foi possível ver duas jogadoras indo numa bola e, no final, ninguém pegava e a bola caía, cedendo pontos à equipe adversária. 

Veremos se, ao final da Liga das Nações, a equipe estará mais entrosada e apresentará melhoras nos pontos citados acima. 

2. Existem seleções atualmente mais fortes

A seleção brasileira feminina não é fraca. Contando, hoje em dia, com nomes como Fernanda Garay, Gabriela Guimarães, Macris Fernanda e Tandara Caixeta, o Brasil também possui seus pontos fortes e consegue se impor contra a grande maioria das seleções com as quais joga contra. No entanto, ainda sim existem seleções mais fortes que dão – e muito – trabalho para as nossas meninas. Precisamos ficar ligados nas seleções de China, Estados Unidos e Japão. 

A China, campeã mais recente das olimpíadas (Rio 2016), é sempre uma grande força a ser batida no vôlei feminino. Treinada por Lang Ping, as chinesas são equilibradas em todas as etapas de ataque e defesa. Uma jogadora para ficar de olho é Zhu Ting, ponteira que é muito forte atacando.

Os Estados Unidos são e sempre foram uma pedra no sapato da seleção brasileira. Treinadas por Karch Kiraly, as estadunidenses possuem uma recepção muito boa e seus ataques podem ser letais. Sarah Parsons é a jogadora que vem chamando atenção, ponteira que fez incríveis 25 pontos contra a seleção no jogo do dia 27/05. 

As japonesas estão mostrando nesta Liga das Nações que não estarão para brincadeira em Tóquio. Defendendo sua seleção em seu país, o Japão treinado por Noboru Aihara tem a defesa como ponto forte, dificilmente deixando a bola cair. A experiente Erika Araki, central, é uma jogadora importante para a seleção. 

3. A insistência de Zé Roberto

Entretanto, os problemas não aparecem apenas em quadra, aparecem também no banco de reservas, local onde encontra-se o técnico da seleção brasileira: José Roberto Guimarães. É fato que ele não é um técnico ruim… pelo contrário: ter o status de ser o único técnico no mundo campeão olímpico com seleções de ambos os sexos não é para qualquer um. Campeão olímpico com a seleção feminina em Pequim 2008 e Londres 2012, o técnico possui boas ideias e nos tempos técnicos sempre tenta passar o máximo de instruções possíveis para suas jogadoras. No entanto, em minha visão, ele possui um problema que é difícil de abandonar: sua insistência em seus “medalhões”. 

A última olimpíada que Zé Roberto venceu foi em 2012.  Nessa época, ele contava com jogadoras como Sheilla Castro, Adenizia da Silva e Danielle Lins jogando em seu mais alto nível, cada uma contribuindo com algo diferente para o Brasil. De fato, é fundamental contar com algumas jogadoras mais experientes no elenco nos momentos de maior pressão, para que quando o time está com problemas, elas possam passar um pouco de sua experiência para quem está em quadra e ajudar mesmo do banco. Contudo, o técnico insiste muito em peças que, hoje, não dão mais muitas contribuições para o time e, com isso, acaba também por tirar espaço de jovens em ascensão para carregar consigo seus “medalhões”. É compreensível que ele tenha um apego maior pelas jogadoras que ganharam um ouro olímpico com ele, porém não pode continuar insistindo em jogadoras que não agregam nada ao time. 

A Liga das Nações é uma competição importante e serve também como um treino para as olimpíadas que virão. Será que, mesmo com as performances ruins de seus medalhões, ele as levará para Tóquio? Digo, como uma fã de voleibol que acompanhou a seleção desde Londres, e com muita dor no coração, que espero que não.

4. Inconstância no decorrer dos jogos

Devido à falta de entrosamento já explicitada acima, a seleção brasileira tende a ser inconstante durante e entre os jogos. Geralmente, nossas meninas iniciam bem o jogo, porém após os primeiros sets começam a decair e diminuir o ritmo. Isso prejudica o time, pois muitas vezes um set faz muita diferença. Quanto mais você deixa os adversários se aproximarem do placar, mais confiante eles ficam e, consequentemente, o jogo, na maioria das vezes, se torna mais difícil, pois a pressão sobre as jogadoras brasileiras aumenta. Elas não conseguem manter um ritmo intenso durante toda a partida, mesmo com as substituições – algumas vezes questionáveis – de Zé Roberto. 

Essa instabilidade não ocorre apenas durante os jogos, mas também entre um jogo e outro. No jogo do dia 26/05 contra as dominicanas, por exemplo, o coletivo brasileiro funcionou muito bem, tanto que os destaques individuais não chamaram tanta atenção. Nesse jogo, o Brasil funcionou muito bem como time, não dependendo exclusivamente dos talentos individuais. Já no jogo contra a seleção estadunidense, ocorreu exatamente o contrário. Todas as jogadas eram ou para finalização de Tandara ou de Fe Garay, então não havia variação de jogadas e as brasileiras não funcionaram como coletivo, confiando totalmente no individual, o que acabou facilitando, assim, o jogo para os Estados Unidos. 

Essa inconstância precisa melhorar caso Zé Roberto queira garantir, no mínimo, uma medalha em Tóquio. 

Estes foram alguns dos motivos pelos quais a seleção brasileira feminina brasileira terá dificuldades em levar o ouro olímpico. Porém, melhorando esses aspectos, tudo pode acontecer, afinal, os esportes são imprevisíveis!

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