O técnico espanhol Xavi Hernández reviveu o time do Barcelona, que parecia morto e derrotado nesta temporada.

Por: Lucas Werneck

​O juiz apita o final do jogo, dando ponto final a mais um dos jogos da maior rivalidade do mundo do futebol. Em Madri, na Espanha, o Barcelona acabava de golear o poderoso Real Madrid por quatro a zero, em pleno Santiago Bernabéu, estádio do clube madrilenho. Vestido com as cores da bandeira catalã, amarelo e vermelho, o Barcelona aplicou uma das maiores vitórias recentes sobre seu maior adversário. Uma vitória que será lembrado por muito tempo, não só pelo resultado imposto pela equipe da Catalunha, mas por todo o contexto envolvido em mais um El Clássico.

Barcelona comemora gol contra o Real Madrid. Foto: EFE/Sergio Perez

A diferença entre os dois times

​Para entender melhor o peso desse resultado, precisamos voltar ao início da temporada, quando os dois times viviam momentos totalmente diferentes. O Real Madrid trazia de volta Carlos Ancelotti, treinador histórico do clube, juntamente com bons reforços – o austríaco Alaba, campeão de tudo pelo Bayern de Munique, e a jovem promessa Eduardo Camavinga, da França. O time foi semifinalista da Champions League na temporada anterior. A moral estava em alta no clube da capital, e o desenrolar da temporada mostrou que este seria mais um ano de bons frutos para o clube. Hoje, o time de branco se encontra nas quartas de final da Champions após uma grande virada sobre o PSG e liderando o Campeonato Espanhol, com larga vantagem de dez pontos à frente do segundo colocado. 

Enquanto isso, na Catalunha, o Barcelona passava pela maior crise de sua história recente.

O clube, afundado em dívidas, perdia o maior jogador de sua história (e, quiçá, da história do futebol), Lionel Messi, e se via incapaz de inscrever os reforços trazidos para a temporada em virtude das regras de Fair Play Financeiro impostas pela La Liga. Nem a reeleição de Joan Laporta (presidente do Barcelona na época de maior glória do clube, de 2003 a 2010) foi capaz de trazer alguma tranquilidade para o time catalão. Ao longo da temporada, o presidente viria a entrar em atrito diversas vezes com o então treinador Ronald Koeman, até que este fosse demitido depois do fiasco na Liga dos Campeões e a má campanha na liga espanhola – em outubro, o clube ocupava apenas a nona colocação. 

O resultado não poderia ser outro. Com jogadores sem confiança e o time indo mal em todas as competições disputadas, a demissão de Koeman já era dada como certa para a imprensa espanhola. E ela veio. No dia 27 de outubro, era dado o anúncio do desligamento entre o técnico holandês e o Barcelona.

O clube se via no ápice da pior crise que já havia enfrentado, e ninguém parecia acreditar numa rápida recuperação do time, levando muitos a acreditar que a atual temporada estava perdida. Até que, em 5 de novembro de 2021, o clube anunciou a volta de um de seus maiores ídolos para o comando técnico da equipe, incumbido com a missão de fazer o Barcelona voltar a ser Barcelona. Nesse dia, Xavi Hernández era anunciado como novo treinador do clube.

A escolha do espanhol para a posição foi uma das melhores apostas feitas pelo presidente Laporta. Xavi tinha apenas um projeto como treinador, o Al Sadd do Qatar, porém tinha em si toda a filosofia de jogo sobre o que era ser Barcelona. E era isso que o clube mais precisava no momento. A equipe trouxe bons reforços, como o gabonês Aubameyang, que já acumula 8 gols nos últimos 8 jogos. Além disso, o clube vai bem na UEFA Europa League, estando presente nas quartas de final da competição, e o mais importante: o futebol do time voltou a encher os olhos dos “culers”, termo que denomina aqueles que são torcedores do time catalão. O Barcelona voltou a ser Barcelona nas mãos de Xavi. E para coroar a virada de chave do time (com o perdão do trocadilho), vem essa vitória com goleada sobre o maior rival, menos de cinco meses depois da chegada do treinador espanhol. 

A significativa vitória do Barcelona

Vestindo a Senyera, a bandeira da Catalunha, o Barcelona dominou o jogo. Dominou o Real Madrid com a bola, não deixou o adversário criar grandes chances, jogou como Barcelona e agora volta para a Catalunha com um grande resultado e com o orgulho de poder voltar a ser quem era. Só por isso, o trabalho de Xavi já deve ser considerado um grande trabalho à frente do clube. É claro, o título da La Liga parece extremamente distante, visto a diferença de pontos do líder, e o clube ainda pode ser eliminado da Europa League, mas Xavi trouxe de volta identidade ao Barcelona e o orgulho de serem “culers” aos torcedores.

Melhores momentos de Barcelona 4×0 Real Madrid. Reprodução: ESPN.

Muita coisa ainda vai se desenrolar durante esta atual temporada e nas temporadas seguintes, e, num mundo incerto como o do futebol, nenhum palpite é certeza. No final das contas, contamos apenas com apostas, que podem dar tão certo quanto errado. Mas, hoje, uma certeza beira o ar nas ruas da Catalunha: o Barcelona voltou a ser Barcelona.