Fevereiro é o mês em que o futebol realmente começa no Brasil, principalmente com o início dos estaduais. Em 2022 o futebol voltou e trouxe consigo episódios violentos e cenas assustadoras, trazendo à tona o lado sombrio do futebol brasileiro e daqueles que se dizem torcedores. Apenas entre os dias 24 e 26 de fevereiro cinco jogos ficaram marcados pela violência, entenda o que aconteceu em cada um deles.
BAHIA X SAMPAIO CORRÊA
No último dia 24 o Bahia recebeu o Sampaio Corrêa na Arena Fonte Nova pelo jogo atrasado da primeira rodada da Copa do Nordeste. Antes do jogo, na chegada da delegação do Bahia ao estádio, uma bomba foi arremessada dentro do ônibus do clube baiano, três jogadores ficaram feridos, Matheus Bahia e Marcelo Cirino (que já anunciou sua saída do clube) sofreram ferimentos leves. Já o goleiro Danilo Fernandes precisou passar por cirurgia para retirar estilhaços da janela do pescoço, o goleiro levou 20 pontos na orelha, rosto e pernas e recebeu alta na última sexta feira (25/02).
Câmeras de segurança da rua flagraram a ação de dois carros e sete homens, que fugiram após o atentado. Os dois veículos já foram identificados como pertencentes a membros da torcida organizada “Bamor”, um deles inclusive sendo o presidente da organizada Half Silva. Ao todo 8 pessoas já foram ouvidas pela polícia.
O Bahia acabou vencendo o jogo por 2×0. No entanto, a fase do tricolor de aço não é boa, o clube está apenas em sétimo lugar no campeonato baiano (fora da zona de classificação para a fase final) faltando apenas duas rodadas para o fim e na Copa do Nordeste se encontra em quarto lugar no grupo B com 10 pontos. Vale lembrar que o Bahia foi rebaixado à segunda divisão do campeonato brasileiro no final do ano passado.
Em entrevista coletiva Danilo comentou sobre o ocorrido: “É uma situação chata. Um futebol brasileiro, que é pentacampeão, hoje em dia está virando notícia policial. Um momento em que o mundo vem passando por guerra, adversidade, e estamos vivendo isso em um ambiente onde devia ter alegria, união de time, torcida, em um só objetivo, que é dar alegria ao povo. A gente se fala, tenta ter uma posição, mas sabe o quanto é complicado. Passa do nosso ponto de alcance”. (sic)

TOCANTINÓPOLIS X NÁUTICO
No dia 24 de fevereiro (mesmo dia do atentado contra o Bahia) a delegação do Náutico desembarcou no aeroporto internacional de Gilberto Freyre no Recife, um dia depois da derrota e eliminação na primeira fase da Copa do Brasil contra o Tocantinópolis pelo placar de 1×0. Com o resultado adverso, torcedores do Timbu foram até o local protestar contra o mau momento do clube. O problema é que, mesmo com o policiamento reforçado, o protesto saiu do controle, com torcedores tentando agredir atletas, além disso a van que transportava o time teve uma de suas janelas destruídas.
Através do Twitter o Náutico repudiou a ação desses que se dizem torcedores e garantiu que, por pouco, ninguém saiu ferido da confusão. Ainda pela rede social, o clube pernambucano disse: “A cobrança deve existir, mas não de forma violenta ou que afete a imagem de qualquer um dos nossos atletas e/ou familiares dos mesmos”.
A fase do Timbu é irregular, além da eliminação na Copa do Brasil o clube ocupa apenas a quinta posição do grupo B na copa do Nordeste, ficando fora da zona de classificação para a fase final. Já no estadual a equipe é a vice colocada com 13 pontos, 3 atrás do líder Retrô.

MARINGÁ X CASCAVEL
O dia 26 de fevereiro de 2022 foi um dos mais violentos da história do futebol brasileiro.
Começando pelo o que aconteceu no Paraná com a equipe do Cascavel depois da partida contra o Maringá pela décima rodada do campeonato paranaense, no estádio Willie Davids, casa do Maringá, que terminou com vitória do time da casa por 1×0. Na saída da delegação do estádio pedras foram arremessadas contra o ônibus do time de Cascavel, por torcedores do time rival, que acertaram a janela traseira do veículo e que, por sorte, não feriu nenhum jogador.
Em nota os donos da casa lamentaram o ocorrido e disseram que os agressores são “bandidos travestido de torcedores, que não representam a torcida e muito menos um clube de futebol” e se comprometeram a prestar toda ajuda necessária para o Cascavel. Os visitantes também se pronunciaram e criticaram o fato de haver pouco policiamento na saída do estádio Willie Davids, que já foi palco de cenas semelhantes em um passado recente. Os responsáveis já foram identificados e um boletim de ocorrência foi feito junto a Policia Civil de Paraná.
Com a vitória o Dogão assumiu a liderança do campeonato paranaense com 19 pontos. Já a Serpente caiu para o quarto lugar com 18 pontos faltando uma rodada para o fim da primeira fase.

GRENAL 435
Ainda no dia 26, o Grenal de número 435 seria disputado no Beira-Rio. Porém, na chegada da delegação do Grêmio ao estádio, torcedores colorados atacaram o ônibus tricolor com pedras que destruíram uma das janelas e atingiram os jogadores. O meia Campaz sofreu ferimentos leves, já o volante paraguaio Mathias Villasanti acabou sendo atingido na cabeça e encaminhado para um hospital, onde foi constatado que o atleta havia sofrido um traumatismo craniano e uma concussão cerebral.
Depois do ocorrido, o clássico foi adiado em algumas horas, contudo o Imortal se recusava a entrar em campo. Até que os donos da casa cederam e o jogo foi cancelado, com isso o embate entre os rivais gaúchos de número 435 se tornou o primeiro a ser adiado por conta da violência na história. O Inter se pronunciou através de uma nota e garantiu que está ajudando a localizar os agressores.
A partida já tem nova data e será jogada no dia 9 março no Beira-Rio. O curioso é que o jogo contará com a presença das torcidas. Essa decisão não agradou os gremistas que esperavam alguma punição ao rival, que inclusive conseguiu mudar o horário do confronto para as 22 horas, alegando que às 19 horas (horário original) o público seria menor devido ao número de pessoas que ainda estariam saindo do trabalho.

PARANÁ X UNIÃO-PR
Para finalizar o fatídico dia 26 de fevereiro tivemos o episódio mais assustador do dia, novamente no Paraná. O Paraná clube vive o pior momento de sua história, em 2018 o clube caiu para série B, em 2020 caiu para série C e em 2021 para a série D do campeonato brasileiro (as duas últimas quedas foram no mesmo ano devido a pandemia), em 2022 o quarto rebaixamento em 5 anos chegou, com a queda no campeonato estadual.
A queda foi sacramentada na derrota para o União em plena Vila Capanema pelo placar de 3×1, entretanto o jogo nem foi encerrado, já que depois do terceiro gol dos visitantes a torcida invadiu o gramado e agrediu os jogadores do Paraná. Esses “torcedores” trocaram chutes com o lateral André Krobel, com o volante Moisés Gaúcho e com o atacante Tadeu. A polícia precisou usar bombas de gás e efeito moral para expulsar os invasores de campo.
Através de uma nota, assinada pelos presidentes dos conselhos do clube, o Paraná Clube condenou o comportamento dos torcedores e lamentou o ocorrido, dizendo que o Paraná passou por um “Dia de Infâmia”. O tricolor da vila prometeu ajudar as autoridades a identificar e punir os agressores: “Faremos o possível para que estes vândalos e bandidos sejam punidos! Eles não representam nossas cores e ideais! Se forem associados, buscaremos a sua expulsão! Faremos todos os esforços para evitar a entrada destes vândalos e bandidos no nosso estádio e sedes!”. A nota se encerra com um pedido de ajuda aos verdadeiros torcedores, para que eles não abandonem o clube nesse momento tão delicado.
Para finalizar o tricolor ainda foi eliminado na primeira fase da Copa do Brasil, com isso a torcida organizada Comando Zona Norte desafiou o elenco profissional do time para um amistoso.

É triste ver pessoas que confundem sua paixão pelo time do coração com violência e barbárie, pessoas que não compreendem o real significado de torcer e que a cada vez que essas cenas se repetem, matam o futebol um pouco mais. Outro ponto, é a falta de punição para os clubes e para as torcidas organizadas, que seguem seus trabalhos e atividades como se nada tivesse acontecido, quando na verdade quem mais perde são eles mesmos.