Nos últimos anos, técnicos estrangeiros vem se destacando como as mentes por trás de times campeões e marcantes. Atravessando oceanos para chegar aqui, esta é uma análise do quão frutífero vem sendo a vinda destes treinadores.
Na contemporaneidade, é fato consumado de que a globalização é um fator essencial para a sociedade. Espalhando-se pela comunicação, tecnologia e cultura, conexões que antes pareciam impossíveis se tornaram plausíveis e acessíveis, e como reflexo da sociedade, isso também afetou o futebol, entenda:
Técnicos estrangeiros, que antes eram raridade no futebol brasileiro, se tornaram figuras conhecidas e se tornam cada vez mais a alternativa preferida de clubes brasileiros.
Esta análise será feita a partir do seguinte critério, serão levados em conta clubes que foram campeões de torneios nacionais (Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Supercopa do Brasil) e torneios continentais (CONMEBOL Libertadores, CONMEBOL Sul-Americana e Recopa Sulamericana) nos últimos 10 anos. Portanto, a análise será feita a partir da temporada 2012 e não levará em conta campeonatos estaduais.
Os clubes utilizados para a análise são: Atlético-MG, Athletico, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Santos, São Paulo e Palmeiras.
Nos últimos dez anos, os clubes acima contrataram 21 técnicos estrangeiros de 6 nacionalidades diferentes, porém quantos destes trabalhos foram frutíferos? Qual país mais exportou treinadores ao Brasil durante este período? Os técnicos brasileiros realmente precisam começar a se preocupar?
O primeiro time dos citados acima a contar com um treinador estrangeiro foi o Athletico, com o espanhol Miguel Ángel Portugal no ano de 2014. Com passagem tímida pelo clube, saindo com 13 jogos e 43% de aproveitamento, o treinador foi demitido rapidamente ainda no primeiro semestre, mas marca a primeira experiência dentre estes clubes.

Mais tardiamente naquele mesmo ano, o Palmeiras também aderiu a um treinador estrangeiro ao trazer o argentino Ricardo Gareca. O treinador, até aquele momento, três vezes campeão argentino pelo Vélez, parecia trazer uma nova filosofia ao clube que passava por forte crise no campeonato brasileiro, porém Gareca não conseguiu boa passagem pelo clube e foi demitido após 8 derrotas em 13 jogos.
Mesmo com as curtas experiências sendo falhas, os anos de 2015 e 2016 contaram com um forte crescimento no número de técnicos estrangeiros. Atlético-MG, São Paulo e Cruzeiro trouxeram, respectivamente, Diego Aguirre, Juan Carlos Osorio e Edgardo Bauza, e Paulo Bento.
O colombiano Osorio deixou o comando do São Paulo em 2015, após 28 jogos, saindo do clube para comandar a Seleção do México. No final deste mesmo ano o clube da capital trouxe o argentino Edgardo Bauza para comandar a equipe.
As equipes mineiras trouxeram Aguirre e Paulo Bento para comandarem suas equipes para a temporada de 2016, assim como o São Paulo fez com Bauza. Ironicamente, a história dos três no Brasil se cruzam. O português Paulo Bento foi contratado pelo Cruzeiro após a equipe treinada por Deivid ser eliminada pelo América-MG na semifinal do Campeonato Mineiro, este mesmo América-MG que venceu o Atlético-MG de Diego Aguirre, derrota esta que balançou o cargo do uruguaio.
Já Bauza pelo São Paulo encontrava-se em situação delicada, sendo eliminado pelo Audax no Campeonato Paulista e estando apenas em décimo no Campeonato Brasileiro, a única coisa que mantinha o argentino no cargo era seu desempenho na Libertadores, que após eliminar o Atlético-MG e consequentemente causar a queda de um já questionado Diego Aguirre, alcançava a semifinal.

O argentino enfrentou o Atlético Nacional-COL nas semifinais, e com sua derrota para a equipe de Miguel Borja e Alejandro Guerra, a sua passagem pela equipe paulistana também se encerrava.
Os anos de 2017 e 2018 contaram com pouquíssimas aparições de técnicos estrangeiros dentre os clubes acima, tendo apenas o colombiano Reinaldo Rueda no Flamengo em 2017, e Diego Aguirre no São Paulo em 2018.
Rueda foi peça importante para o Flamengo e sua reformulação, mesmo com sua passagem sem títulos. O colombiano apostou em peças como Vinícius Júnior e Lucas Paquetá e os utilizou na equipe profissional. Sendo vice-campeão da Copa do Brasil e da CONMEBOL Sulamericana, Rueda saiu apenas 18 jogos, aceitando o convite da Seleção Chilena para ser seu novo treinador.

Já Aguirre teve seu melhor momento no futebol brasileiro no São Paulo, tendo uma forte campanha no primeiro turno do Campeonato Brasileiro e sendo, inclusive, campeão do primeiro turno do torneio. Porém, a equipe comandada pelo uruguaio não soube manter a intensidade e perdeu a liderança do Campeonato para seu rival, o Palmeiras.
Faltando apenas 5 jogos para o fim do Campeonato Brasileiro e com a equipe na 5° colocação (e fora da zona de classificação para a Libertadores), o São Paulo decidiu demitir Diego Aguirre. O uruguaio voltou a dar as caras no futebol brasileiro somente em 2021, comandando o Internacional.
Porém, as coisas mudaram no fim da temporada 2018 com o Santos contratando o vitorioso técnico argentino, Jorge Sampaoli. Campeão de maneira inédita da Copa América com o Chile, Sampaoli, teoricamente, elevaria o patamar dos técnicos brasileiros.

Já no começo de 2019, após um conturbado início de temporada com Abel Braga, o Flamengo cruzou o oceano e viajou ao velho continente para buscar um esquecido Jorge Jesus. O português se encontrava no Al Hilal, time da Arábia Saudita, e veio para o Brasil visando ajudar o Flamengo a conquistar a Libertadores e o Mundial.
Como muitos sabem, Jesus fez história no Brasil e no Flamengo. Com um time praticamente imbatível e um futebol amplamente elogiado por qualquer um que visse este time jogar, Jorge Jesus se tornou o primeiro técnico estrangeiro desta nova leva a ser campeão. Conquistando títulos em escala estadual, nacional e continental, o astronômico sucesso do português no Brasil ditou o ritmo das contratações de técnicos dos próximos anos.

Após o sucesso do técnico português no Flamengo, times como o Santos e Athletico buscaram técnicos lusitanos para suas vagas. A equipe caiçara contratou Jesualdo Ferreira e a equipe paranaense trouxe António Oliveira, importante citar que nenhum dos dois passou da marca de 35 jogos ou sequer disputou títulos.
Entretanto, outro clube embarcou na onda de técnicos do velho continente. O Palmeiras buscava um novo técnico após demitir Vanderlei Luxemburgo, e com sua busca o clube procurava alguém com uma nova filosofia. Em forte busca que passou por nomes como Miguel Angel Ramírez (que posteriormente assinou com o Internacional) e Beccacece, a equipe da Barra Funda encontrou no PAOK, da Grécia, um jovem e promissor técnico.
Abel Fernando Moreira Ferreira, conhecido popularmente como Abel Ferreira, chegou à equipe da capital extremamente contestado e com grande pressão. 103 jogos após sua chegada, Abel é o atual bicampeão da América com o alviverde, foi campeão da Copa do Brasil na temporada de 2020 e é o mais novo campeão da Recopa Sulamericana.

Com Jesus introduzindo a ideia do sucesso europeu e estrangeiro, e Abel Ferreira confirmando a teoria, times brasileiros já não se mostravam mais tímidos em buscar treinadores fora do país.
O Flamengo ainda insistiu em técnicos europeus, em 2020, após a saída de Jorge Jesus para treinar o Benfica, trouxe o catalão Doménec Torrent que teve apagada passagem pelo clube, que mesmo com bons resultados não trazia um futebol convincente. A equipe rubro-negra buscou recentemente Jorge Jesus de volta, porém ele não aceitou. Ainda na busca de um novo técnico, o time da gávea seguiu sua busca especificamente em Portugal, e trouxe Paulo Sousa, que estava treinando a seleção polonesa
No ano de 2021, o Santos trouxe o argentino Ariel Holan, que fracassou em sua passagem com 5 derrotas em 12 partidas, hoje em dia, após passagem de Fábio Carille, o clube do litoral aposta em outro estrangeiro: Fabián Bustos.
Já o Atlético-MG, teve 3 de seus últimos 5 técnicos vindos de outros países, sendo eles o venezuelano e ex-jogador Dudamel, o conhecido Jorge Sampaoli e atualmente o clube é treinado por Antonio Mohamed, treinador argentino que já conquistou a Supercopa do Brasil.

O São Paulo investiu no argentino Hernán Crespo em 2021, que trouxe resultados vitoriosos a equipe conquistando um Campeonato Paulista e encerrando uma seca de nove anos sem títulos do clube. Porém, após má fase no Campeonato Brasileiro, Crespo foi demitido sob muitas críticas da torcida para a diretoria após esta decisão. Mesmo não seguindo no clube, a torcida tricolor havia forte laço com o treinador argentino e suas filosofias.
Clubes como Grêmio e Fluminense não apostaram em nenhum treinador estrangeiro nesses últimos 10 anos, sendo os únicos da lista a terem este feito.
Existem alguns clubes que estão em reformulação hoje em dia e que apostaram em técnicos estrangeiros, como por exemplo o Botafogo com o português Luís Castro. Porém é importante citar que Corinthians e Cruzeiro, que estão em período de reformulação do clube e do elenco, recentemente contrataram técnicos estrangeiros, sendo a aposta alvinegra o conhecido técnico português Vitor Pereira, e a crença da raposa no promissor técnico uruguaio Paulo Pezzolano.

Existe um forte debate se há motivo e razão para técnicos brasileiros se desesperarem já que com essa mudança times estão optando por estrangeiros. Lidando friamente com os números, das últimas dez edições de Campeonatos Brasileiros, nove tiveram como campeão um técnico brasileiro. Das últimas dez Copas do Brasil, apenas uma edição teve um técnico estrangeiro campeão.
Porém, a força dos técnicos estrangeiros não está no nosso país, mas sim no nosso continente. Os últimos dois times campeões da América tiveram seus times treinados por técnicos portugueses, sendo um deles atualmente bicampeão da América.

Traçada esta linha do tempo e sugerido o debate, vamos aos números objetivos.
Nacionalidades que mais aparecem dentre os técnicos estrangeiros:
-7 argentinos
-7 portugueses
-2 espanhóis
-2 uruguaios
-2 colombianos
-1 venezuelano
Títulos conquistados por técnicos estrangeiros:
-Campeonato Brasileiro Série A (2019)
-Copa do Brasil (2020)
-Taça CONMEBOL Libertadores (2019, 2020, 2021)
-Supercopa do Brasil (2019, 2021)
-Recopa Sulamericana (2020, 2022)
Treinador estrangeiro com mais jogos: Abel Ferreira (Palmeiras)
–Com mais vitórias: Abel Ferreira (Palmeiras)-104 jogos*
–Com menos jogos: Dudamel (Atlético-MG)-10 jogos
–Com mais derrotas: Abel Ferreira (Palmeiras)-27 derrotas*
–Com melhor aproveitamento: Jorge Jesus (Flamengo)- 82,75%
–Com pior aproveitamento: Ricardo Gareca (Palmeiras)-33%
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