De português a argentino, há mais de dois anos, técnicos estrangeiros, de todas as partes do mundo, têm sido preferência de dirigentes dos clubes brasileiros. Afinal, o que está por trás desse movimento?
Em 2019, logo após a saída de Abel Braga, o Flamengo encontrava dificuldades em achar um técnico, no Brasil, a altura de seu elenco estrelado e que conseguisse, no meio da temporada, dar um rumo e conquistar algum troféu. Explorando mercados e ideologias estrangeiras, o escolhido foi Jorge Jesus e acho que todos vocês conhecem sua história vencedora e inesquecível.
Voltando aos dias atuais, digamos que todos os grandes clubes brasileiros sofrem uma espécie de “síndrome JJ”. Seus dirigentes, quando precisam achar um novo comandante, estão preferindo alguém de fora, com a ilusão de repetir o mesmo sucesso que o “mister” teve com o Flamengo. Porém, não é muito bem assim que as coisas funcionam.

O que aconteceu em 2019 foi uma sintonia perfeita entre comissão técnica, fase técnica e física perfeita dos jogadores e um planejamento invejável do Mengão, só que o próprio Jorge Jesus sabe que, logo no início de 2020, a maré havia mudado de lado. Toda a intensidade de seu jogo perdera força, seus adversários o estudavam mais, encontrou sérias dificuldades para manter a concentração de suas estrelas depois de tanta glória e a pressão aumentava cada vez mais. Assim, sem pensar muito, o técnico volta à sua terra natal na primeira oportunidade que teve, menos de dois meses após renovar seu contrato com o time da Gávea.
Depois de JJ, alguns técnicos estrangeiros tiveram sucesso no Brasil, destacando Abel Ferreira (atual técnico do Palmeiras), que consolidou essa onda de estrangeiros e foi bi campeão da Libertadores e finalista do mundial. Acontece que, muitos times tentaram técnicos estrangeiros durante esse período, de 2019 até hoje, mas não obtiveram o mesmo êxito.
O Vasco, surfando nessa onda, contratou Sá Pinto que só havia conquistado um título na Bélgica e o demitiu em 15 jogos. Tendo um currículo parecido com o português, com menos tempo ainda de profissão e dirigindo uma equipe do Equador, Miguel Ángel Ramírez foi muito disputado entre clubes brasileiros, acertou com o Internacional e adivinha o desfecho: muito criticado e pressionado, foi demitido em 24 jogos. Além deles, o Santos também foi vítima desse imediatismo estrangeiro, contratou Ariel Holan (argentino) e Jesualdo Ferreira (português) e ambos não chegaram nem a 15 jogos pelo Peixe.
O ponto principal do sucesso de Palmeiras e Flamengo não está somente ligado com a chegada de escolas europeias no Brasil. Claro que elas têm um papel fundamental, mas sem a estrutura de ambos os clubes para comportar tanta intensidade física e lesões; e o investimento deles, para poder trazer toda a comissão técnica dos treinadores e seus atletas de preferência, nenhum técnico, seja brasileiro, português ou argentino, conseguiria obter os mesmos grandes sucessos, que Jorge Jesus e Abel Ferreira tiveram.
Cuca, no Atlético-MG, e Tiago Nunes, no Athletico-PR, são dois exemplos de técnicos brasileiros que obtiveram sucesso em seus respectivos trabalhos, mesmo sendo brasileiros. E, “coincidentemente”, são times bem estruturados e com ótimos planejamentos.

É notório que há um atraso em relação aos treinadores do Brasil e da Europa e aqueles que vem do velho continente são mais preparados, já que há 20 anos atrás não existia nem curso de preparação para a profissão no nosso país. Porém, eles não são mágicos; não adianta o clube ir atrás desesperadamente de técnicos, apenas porque são estrangeiros e esperarem um milagre.
Todos os aspectos citados devem ser levados em conta, para fornecer condições adequadas ao qualificado treinador que chegar, independentemente de sua nacionalidade. Se isso não acontecer, a dança das cadeiras de técnicos no futebol brasileiro continuará frenética como é, mais estrangeiros chegarão sem o mínimo de estrutura necessária e serão queimados em menos de 20 jogos.
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