Em 1992, o cantor dava os primeiros passos daquilo que se tornaria um dos principais projetos da sua vida: a luta contra a AIDS.

Ele é dono de 6 vitórias no Grammy Awards, 2 estatuetas do Oscars, diversos #1 em paradas musicais, 3° lugar na lista da Billboard de maiores artistas da história, 50 anos de carreira e até mesmo um filme biográfico. Elton John é inegavelmente um dos principais nomes da indústria musical de todos os tempos. Porém, sua contribuição ao mundo vai muito além de discos premiados e canções de sucesso. Elton Hercules John é um filantropo que luta constantemente pela erradicação da AIDS.

Elton se aproveita de sua posição financeiramente privilegiada e de alcance global para falar sobre a doença, tratada por muitos como um tabu ainda. Ele faz isso por meio, principalmente, de sua instituição de caridade, a The Elton John AIDS Foundation (EJAF).

Criada em 1992, o ano de 2022 marca o 30° aniversário da entidade, que arrecadou mais 450 milhões de dólares até 2019 para seu propósito, segundo seu fundador. “A missão da Fundação é simples: ser uma força poderosa sobre o fim da epidemia de AIDS. Nós estamos comprometidos ao fim da discriminação. Fim das infecções por HIV. Fim mortes por AIDS. Não importa quem você é ou onde você está.”, lê-se em seu site oficial.

Elton John durante discurso de fundação da EJAF em 1992. (Foto: Reprodução/The Elton John AIDS Foundation)

Explicando a AIDS

Antes de falar sobre a importância de Elton, é importante detalhar o que é a doença. Em português, AIDS é uma sigla para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Ela é uma enfermidade que afeta o sistema imunológico da pessoa, dificultando a proteção contra micro-organismos maléficos.

A AIDS ocorre em decorrência de uma contaminação com o Vírus da Imunodeficiência Humana – o famoso HIV. A presença dele faz com que o corpo fique mais suscetível a doenças que normalmente seriam combatidas pela defesa do organismo.

O HIV ataca especialmente os linfócitos T CD4+. Essas células são responsáveis por controlarem a resposta corpórea a ataques de outros vírus, bactérias e outros seres vivos, os quais adoecem os humanos.

Entretanto, a presença do HIV não significa necessariamente que a pessoa tem AIDS. O aidético é alguém que, além de ser soropositivo (tem teste positivo para HIV), está no estágio mais avançado da infeção, manifestando seus sintomas.

Os sinais físicos da AIDS envolvem fraqueza, febre, emagrecimento, diarreia, sensibilidade à luz, dor de cabeça, cansaço, entre outros.

De acordo com o site do Governo Federal, a transmissão do HIV acontece quando há: qualquer tipo de sexo sem camisinha, uso de seringa compartilhada, transfusão de sangue, gravidez, parto, amamentação, uso de instrumentos cortantes não esterilizados. Isso envolvendo, obviamente, sangue de um indivíduo portador do vírus. 

Até o momento, não há cura para a AIDS. Atualmente, só é possível aumentar a qualidade de vida do enfermo, por meio de tratamento retroviral. Os medicamentos envolvidos impedem a multiplicação do HIV no organismo. Isso evita o enfraquecimento do sistema imunológico.

Contudo, vale ressaltar que ninguém morre de AIDS. Os falecimentos de aidéticos ocorrem devido a contaminações por doenças oportunistas, que, aproveitando-se da baixa imunidade, fazem estragos maiores no organismo doente.

Infelizmente, o diagnóstico da AIDS ainda é permeado por preconceito. De acordo com pesquisa de 2019 do braço da Organização das Nações Unidas sobre a AIDS, 46,3% de mais de mil aidéticos brasileiros já foram obrigados a escutarem comentários discriminatórios da própria família.

Dessa forma, a visibilidade proporcionada por um artista do nível de Elton John é extremamente benéfica aos enfermos do mundo todo. Ao buscar condições de vidas mais dignas para os aidéticos e tratar sobre o tema constantemente, Elton contribui para a diminuição do estigma injusto e maldoso em torno do tópico.

Representação gráfica do vírus HIV. (Foto: Reprodução/The Journal)

EJAF: Elton John versus AIDS

A convivência do músico com a doença é antiga. Em seu livro “Eu, Elton John” de 2019, ele narra a forma como a AIDS fez e faz parte de sua vida. Embora não seja portador do HIV, era comum ver amigos falecendo por conta da pouca defesa interna.

Na obra, o caso do jovem Ryan White, que morreu aos 18 anos devido a uma infecção respiratória em 1990, tem grande destaque. White era aidético, tendo contraído o vírus do HIV após uma transfusão feita com sangue contaminado em 1985. Elton tomou conhecimento do caso e se tornou muito próximo do garoto, estando junto a ele em seu leito de morte.

A situação de Ryan ganhou notoriedade devido a uma batalha judicial com sua escola, que negava a presença dele em suas dependências por acreditar que a AIDS seria transmitida pelo contato direto. O garoto sofreu com o preconceito e a desinformação ao longo de sua vida, e sua morte gerou comoção geral nos Estados Unidos.

Nos dois anos seguintes ao óbito de White, Elton se envolveu em projetos beneficentes, a fim de amenizar sua dor pela impotência diante da situação. O britânico queria fazer cada vez mais, até que chegou à ideia de criar sua própria fundação em prol dos afetados pelo HIV, em 1992.

“[…] Fundar uma organização beneficente própria, voltada para ajudar pessoas a se protegerem do HIV e providenciar as necessidades básicas para que soropositivos pudessem viver vidas melhores e mais dignas: coisas simples como comida, alojamento, transporte, acesso a médicos e conselheiros”, ele escreveu no livro sobre o objetivo da The Elton John Foundation.

Elton John ao lado de Ryan White, hospitalizado, e sua mãe. (Foto: Reprodução/The Elton John AIDS Foundation)

Elton iniciou a fundação em meio a um período conturbado: ele buscava a sobriedade. A instituição foi fundamental em seu processo de recuperação, substituindo o tempo que ele antes utilizava com drogas. Em suas próprias palavras, “a AIDS Foundation [..] me trouxe um novo propósito para além da música.”

Com o passar dos anos, o cantor presenciou diversos encontros com líderes globais, envolvendo-se até mesmo em testemunhos. Em duas ocasiões, uma em 2002 e outra em 2015, Elton dirigiu-se ao Congresso dos Estados Unidos para pedir por mais ações e verbas em prol do fim da AIDS.

Outra reunião relevante com autoridades ocorreu em 1998. Na data, Elton recebeu uma das maiores honrarias que um britânico pode receber, graças a, entre outras coisas, seu trabalho na luta contra a AIDS. Ele foi condecorado cavaleiro pelas mãos da rainha Elizabeth II e passou a ser chamado de Sir Elton Hercules John.

Ganha destaque também o livro de 2012 “O amor é a cura: em vidas, perdas e o fim da AIDS”. Nele, Sir Elton John narra em minúcias o relacionamento que teve com a doença até então, além de contar a história dos 20 anos da EJAF.

Grande parte dos últimos 30 anos da vida do britânico foram dedicadas a viagens relacionadas à doença: visitou todos os continentes do mundo falando sobre a AIDS. Fossem elas para discursas a figuras importantes, ou fossem para visitar centros de ajuda a aidéticos.

Sem contar outros fatos de sua vida, como as vezes em que tentou angariar fundos para a EJAF. Ele leiloou sua coleção de discos, vendeu suas roupas, realizou jantares, promoveu bailes, viajou à negócios, doou cachês, tocou em uma festa estando com apendicite, repassou lucros de canções e muito mais. O envolvimento de Elton com sua caridade é admirável e vai muito além de apenas o nome: ela durará enquanto o músico viver. 

Elton John testemunhando diante do Congresso dos EUA em 2015. Ele pediu para que os senadores “façam mais” pela luta contra a AIDS. (Foto: Paul Morigi/Getty Images)

A Elton John AIDS Foundation

Segundo dados da EJAF, até 2019, eles arrecadaram mais de 450 milhões de dólares. Esse dinheiro foi utilizado para salvar mais 5 milhões de vidas. Excepcionalmente em 2020, a pandemia de coronavírus gerou ainda uma doação de 1 milhão de dólares para a vida daqueles que agora lutariam contra dois vírus: covid-19 e HIV. O valor foi desembolsado por Elton John.

Elton e sua fundação visam ao fim da pandemia de AIDS até 2030 – meta essa que compartilham com a Organização Mundial da Saúde. Para a EJAF, a educação não-discriminatória sobre o HIV, seu tratamento e sua prevenção e o cuidado compassivo aos que estão em risco do vírus são o caminho para alcançar o objetivo.

“[…] Fundar uma organização beneficente própria, voltada para ajudar pessoas a se protegerem do HIV e providenciar as necessidades básicas para que soropositivos pudessem viver vidas melhores e mais dignas: coisas simples como comida, alojamento, transporte, acesso a médicos e conselheiros”, são palavras em ‘Eu, Elton John’ sobre o objetivo da EJAF.

A EJAF, além de promover suas próprias ações, apoia projetos ao redor do mundo que combatam a AIDS. A instituição já deu suporte a mais de 2900 programas. Ademais, ela financia outras 150 organizações menores por ano.

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